quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Casa de jornal


Fiz uma casa de jornal
E fui morar...
Eu tinha um neném
Seu choro tinha som de morte
Fiz esta casa para fugir da solidão
Fechei o cadeado
E meu neném cessou o choro
Por todos os vinte anos seguintes não o ouvi
Achava que havia morrido
Mas como saber o que está morto ou vivo?
A relação é tão próxima
E nunca aprendi a definir vida e morte
Passei vinte anos escrevendo
Se fazia sol escrevia a chuva
Se chovia, enaltecia o sol
E se a noite,
Então surgia
Contemplava a claridade
Meu neném e eu adorávamos ver todos os dias
Os ângulos da vida
Todos os parâmetros da morte
Apesar de não distinguir muito bem essas passagens
Não conhecia meu pais
Não possuía irmãos,
Nem família,
Nem emprego
Só existia meu neném e eu
Eu me alimentava de poesia
Ouvi tiros
Falar de guerras
Drogas e violência
Mas esses sons eram tão distantes
Minha casa de jornal nos protegia
Possuía um campo prrotetor
Meu neném
Não chorava
Sorria ou se movia
Era um neném de pano
Minha casa era feita de jornal.

Autora: Juliana Pacheco

Nenhum comentário: